O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a lei que cria a política nacional de humanização do luto materno e dos pais. Publicado na segunda -feira, 26, a medida prevê que o Sistema de Saúde Unificado (SUS) oferecerá tratamento e recepção específicos às famílias que perderam um filho durante a gravidez, o parto ou no período neonatal. O padrão começa a ser válido em 90 dias.
O texto estabelece a oferta de cuidados psicológicos especializados, a execução de exames para investigar a causa da morte do bebê, o monitoramento de gestações futuras e a necessidade de os hospitais terem espaços reservados para mães e famílias enlutadas.
Outra mudança importante é a mudança na lei de registros públicos (Lei nº 6.015/1973). Agora, os pais terão o direito de incluir no registro Stillbid o nome escolhido para o bebê e, quando possível, a impressão digital e o plantio (do pé). Também será possível assistir, enterrar ou cremar o natimorto, de acordo com a decisão da família.
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A lei também prevê a criação de protocolos clínicos e treinamento com equipes para uma recepção adequada. Mãe, pai e familiares podem ter um espaço e um momento oportuno para dizer adeus ao bebê pelo tempo necessário e ser enviados ao aconselhamento psicológico após a alta hospitalar.
Além disso, a proposta estabelece o mês de outubro como o mês de luto gestacional, neonatal e infantil no Brasil.
Atualmente, três hospitais no Brasil oferecem esse tipo de atendimento, de acordo com o Ministério da Saúde: o Hospital Infantil Materno de Brasília, o Hospital Materno Ribeirão Preto e o Hospital de Maternidade de Alta Complexidade de Maranhão.
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De acordo com a pasta, entre 2020 e 2023, o Brasil registrou 172.257 mortes fetais. Com 40.840 natimortos, a região sudeste foi a que mais notificou casos no período. No ano passado, o país registrou 22.919 mortes fetais e 19.997 mortes neonatais (bebês 28 dias ou menos da vida).
Em todo o mundo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que quase dois milhões de bebês nascem sem vida todos os anos, equivalentes a um Stilldy, a cada 16 segundos.
A importância da recepção
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A enfermeira e a professora Juliana Marcatto é coordenadora do projeto “Renascer – atendimento multidisciplinar de luto perinatal” na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo ela, a medida é importante porque fornece diretrizes e caminhos para melhor acolher de famílias enlutadas, necessárias para impedir que os pacientes adquirissem trauma adicional devido à experiência hospitalar e ao luto.
“A maneira como cuidamos dos pacientes pode causar danos terríveis em alguns casos, ainda maior que a experiência da morte do bebê. É necessário ter uma abordagem do que é dito e feito, validando a experiência da mãe e da vida do bebê”, diz ele.
Dá um exemplo da importância dos espaços reservados para famílias lamentadas. “A dor de uma família que vive adeus ao lado de uma que está comemorando a chegada é absurda. Mas é muito comum que, nos hospitais de maternidade, essas pessoas sejam expostas a gritos de bebês e mulheres que amamentam do outro lado”.
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Através de Renascer, Juliana é responsável pelo ambulatório de luto, ligado ao Hospital Sofia Feldman em Belo Horizonte. Lá, as mulheres que perdem o bebê já saem com uma consulta programada na clínica ambulatorial. O processo de recepção não substitui a psicoterapia, mas permite o diálogo sobre os sentimentos viveu explicações de conduta médica, diagnóstico e decisões clínicas, bem como conversas sobre os estágios do processo de luto do bebê e a vida do bebê.
Também há conselhos para questões como fazer com o leite materno, quando o processo de lactação já está estabelecido. “Alguns optam por doar, que é uma estratégia poderosa de demissão”, diz ele.
“Precisamos criar uma estrutura física e organizacional, mas também os cuidados comportamentais focados nesse sofrimento”, argumenta ele. “E precisamos entender que é precisamente porque é uma vida breve e, durante o tempo, tem sido curto que há muito a ser feito”.