O enredo da minissérie da “adolescência”, que estreou na Netflix em março e está entre as 10 plataformas de streaming mais visualizadas, tem chamado a atenção para o enredo que acompanha um ano de 13 anos, Jamie Miller (Owen Cooper), acusado de matar violentamente um colega de classe da escola.

Especialistas apontam que produções como a série podem contribuir para discussões saudáveis ​​sobre tópicos difíceis.

Segundo Marcos Trati, psicólogo, professor e mestre em psicologia clínica da PUC-SP, esse tipo de conteúdo oferece uma oportunidade única de reflexão para a sociedade como um todo.

“Com o espelhamento da realidade na tela, os espectadores podem estar cientes de suas próprias situações e comportamentos. O entretenimento pode servir como uma ferramenta terapêutica, abrindo um espaço seguro para reflexão e diálogo sobre temas sensíveis da realidade de adolescentes e famílias”, diz o especialista.

Olhos adultos na adolescência

Uma das diretrizes mostradas na trama que merece nossa atenção é a maneira como os adultos percebem e se relacionam com os adolescentes. Isso tem um impacto direto no bem-estar psicológico dos jovens, principalmente porque muitos adolescentes ainda não podem expressar adequadamente suas emoções, sentimentos e pensamentos, segundo Torati.

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Para o psicólogo, a ausência de competência para adultos para entendê-la pode levar os jovens a se sentirem abandonados em seu sofrimento, e é comum nesses casos desenvolver sintomas como embotamento da personalidade, auto-depreciação ou comportamentos antissociais.

“A fragilidade do eu do adolescente, que ainda está em formação em um estado emocional de dependência de opiniões e expectativas de adultos para reconhecer seu valor, o que influencia diretamente o processo de construção de sua auto -estima e identidade”.

O doutor João Pedro Wanderley, psiquiatra do hospital alemão Oswaldo Cruz, concorda que um dos pontos da série que mais chama a atenção é a hierarquia entre gerações e a dificuldade de entender a linguagem do outro – especialmente quando envolve o mundo digital.

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“Especialmente falando de adolescência, que é uma fase da vida em que há necessidade de aceitação e escuta. Essa comunicação às vezes é muito distanciada, seja do adolescente com a família, o adolescente com a própria escola e a escola com a família”, ele comenta.

Portanto, o médico aponta, a importância de ter um diálogo aberto e transparente entre as três partes.

Uma maneira é a inclusão de um profissional de saúde mental no ambiente escolar para ajudar a identificar nos alunos os primeiros sinais de conflito, bullying e desregulamentação emocional, por exemplo, e consulte a ajuda e o tratamento.

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Bullyingredes sociais e misoginia

A série lança uma visão sensível do universo dos jovens, trazendo tópicos como a busca por pertencimento, os desafios da auto -estima e, especialmente, o bullying – Isso vai além do mundo físico e afeta os jovens também no mundo virtual.

A produção se amplia como pequenas agressões verbais e físicas, muitas vezes trivializadas, podem deixar marcas profundas, um reflexo do que acontece na realidade de muitos jovens.

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O impacto de uma crítica média vai além do ambiente escolar, afetando a auto -estima, o desempenho acadêmico e a saúde mental das vítimas. Muitos estudantes desenvolvem ansiedade, depressão e, em casos extremos, têm pensamentos suicidas.

Para a psicopedagoga Gleiciane de Oliveira Maziotti, é essencial que a escola esteja preparada para identificar e intervir nessas situações.

“Precisamos de uma educação mais preparada que promova respeito e empatia. Quando a escola ignora o problema ou a trata como algo menor, isso contribui para a violência continua”.

Conforme mostrado na série Netflix, a construção de um ambiente seguro envolve a conscientização sobre estudantes, professores e responsáveis. Isso pode incluir campanhas educacionais, acompanhamento psicológico -up e a criação de canais de denúncia.

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“Além disso, a participação ativa dos pais na vida escolar e nas redes sociais das crianças pode ser um fator determinante na identificação de mudanças comportamentais que indicam que algo está errado”, diz o psicopédico.

O drama psicológico destaca questões sociais extremamente atuais e frequentemente relacionadas, como masculinidade tóxica e o impacto das redes sociais na formação da identidade dos jovens.

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“A série toca em um ponto central na dinâmica social: a construção de um ideal de masculinidade que desconsidera a complexidade emocional dos meninos, em uma dinâmica que os desumaniza”, aponta psicanalista e filósofo Ana Matos.

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Ana também aponta que a imposição de um modelo baseado na supressão de força e emocional resulta em padrões comportamentais que geralmente se traduzem em violência.

Essa realidade se reflete nos números. Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que cerca de 23% dos estudantes do ensino fundamental já sofreram bullying. O fenômeno, longe de ser um problema isolado, está diretamente ligado a padrões culturais que reforçam a agressão como uma expressão da identidade masculina.

“O bullying Não nasceu na escola. É um sintoma de uma estrutura social que ensina os meninos a responder violentamente quando se sentem inseguros ”, diz o psicanalista.

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A influência das redes sociais também é inserida nesse contexto, amplificando a dinâmica da exclusão e reforçando estereótipos nocivos. A exposição digital intensifica a necessidade de validação externa, tornando a imagem pública mais importante que o bem-estar emocional.

“A Internet cria um espaço onde a competitividade e a busca incessante pela aprovação substituem o sabunho. Isso gera uma identidade frágil, moldada por expectativas irreais”

Mas quais são as maneiras de abrir o diálogo e criar conexões? Para o psiquiatra João Wanderley, existem ferramentas. Uma é através de uma abordagem mais profunda da rotina das crianças, com perguntas específicas sobre quem são amigos, por exemplo, em vez de apenas uma “como foi a escola hoje?”

O psiquiatra também destaca a importância de impor limites, como estipular regras e compromissos, que podem incluir horários para chegar em casa, comer, estudar, fazer uma atividade física e de tempo de exibição.

Também é crítico, enfatiza Wanderley, ensinando crianças e adolescentes a aprender a lidar com a frustração.

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