O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou um tão esperado pacote de tarifas comerciais na quarta-feira (2), na qual ele chamou o “Dia da Libertação”-e o resultado foi positivo para o Brasil. Pelo menos em termos relativos.
Esta é a visão do embaixador Roberto Azevêdo, que dirigiu a Organização Mundial do Comércio (OMC) entre 2013 e 2020 e é hoje o Presidente Global de Operações da Ambipar.
“O Brasil fez muito bem, e o fato de ser um déficit no comércio com os Estados Unidos deve ter ajudado muito”, disse Azevêdo ao InfoMoney – Pensando em que essa avaliação relativamente positiva só faz sentido comparar a sobretaxa imposta ao Brasil com os definidos para outros países.
Trump estabeleceu transbordamentos recíprocos para produtos importados de todos os países, com barreiras consideradas desproporcionais pelos Estados Unidos. No caso de produtos brasileiros, a taxa adicional anunciada foi de 10%. A sobretaxa varia de acordo com a base de caso e atinge 46% para o Vietnã e 49% para o Camboja.
A sobretaxa de 10% aplicada ao Brasil é a mais baixa entre todas as taxas impostas, juntamente com Cingapura e o Reino Unido. De acordo com a simulação de Bradesco, uma tarifa como essa se encaixaria em um cenário de impacto na economia de US $ 2 bilhões em exportações brasileiras.
Azevêdo ressalta que ainda há muitas perguntas a serem respondidas – “Eu poderia escrever um livro apenas listando perguntas”. Não é possível saber, por exemplo, a origem das tarifas tomadas como referência para a definição de sobretaxa aplicada a cada país. “É claro que eles não são tarifas ponderadas. Outros parâmetros estão incluídos, como manipulação da taxa de câmbio e barreiras não -tarifas”, diz ele.
Continua após a publicidade
“Além disso, o presidente Trump não explicou se essas tarifas serão negociadas. É outra grande questão”, diz o embaixador.
Confira as tarifas recíprocas anunciadas por Trump
País | Tarifa cobrada dos EUA* (%) | Tarifa recíproca (%) |
---|---|---|
Reino Unido | 10 | 10 |
Brasil | 10 | 10 |
Cingapura | 10 | 10 |
Chile | 10 | 10 |
Austrália | 10 | 10 |
Türkiye | 10 | 10 |
Colômbia | 10 | 10 |
Israel | 33 | 17 |
Filipinas | 34 | 17 |
União Europeia | 39 | 20 |
Japão | 46 | 24 |
Malásia | 47 | 24 |
Coréia do Sul | 50 | 25 |
Índia | 52 | 26 |
Paquistão | 58 | 29 |
África do Sul | 60 | 30 |
Suíça | 61 | 31 |
Taiwan | 64 | 32 |
Indonésia | 64 | 32 |
China | 67 | 34 |
Tailândia | 72 | 36 |
Bangladesh | 74 | 37 |
Sri Lanka | 88 | 44 |
Vietnã | 90 | 46 |
Camboja | 97 | 49 |
* Inclui manipulação de moeda e barreiras comerciais
O que são tarifas recíprocas?
O conceito de “tarifa recíproca” começa com o princípio de equiparar as cobranças: se o país cobrar 15% em um produto americano, os EUA aplicarão os mesmos 15% no produto equivalente desse país. No entanto, essa lógica ignora aspectos técnicos dos compromissos internacionais de comércio e desconsiderem assinados em acordos multilaterais. Para muitos analistas, esse modelo abre espaço para discrição política e intensificação de disputas comerciais.
Continua após a publicidade
Na tabela divulgada pelo governo Trump, os países foram organizados de acordo com o nível de barreiras comerciais que impõem aos Estados Unidos. A metodologia adotada considerou três fatores: a diferença entre as tarifas de importação dos EUA e seus parceiros, a carga tributária interna de cada país e a presença de barreiras não tributárias.
Com base nesses critérios, Washington determinou a aplicação de uma sobretaxa correspondente a metade do “nível de proteção” chamado. A abordagem, no entanto, tem sido alvo de críticas de especialistas, que apontam a imprecisão, misturando impostos internos com tarifas de importação. Outro ponto controverso é a dificuldade em quantificar barreiras não tributárias, como requisitos ambientais ou regras de propriedade intelectual.
No caso do Brasil, o nível calculado de proteção foi de 10%. Como esse é o piso estabelecido pelo decreto, o país será alvo de uma sobretaxa de 10% em suas exportações para os EUA.